Princípios da hermenêutica para interpretar bem a Bíblia

Imagine se todos interpretassem de sua maneira, ninguém concordaria em nada, divergências criam rachas, inimizades, mas na verdade é que não podemos fechar uma opinião, pois somente o autor pode definir na totalidade o que ele quis dizer. A bíblia está atrelada à cultura e época, não só de sua linguagem, mas também do autor que escreveu determinado texto. Devemos então entender o que o autor quis dizer conforme a sua cultura e época em que está inserido, para isso definimos alguns princípios básicos para procurar interpretar bem as escrituras sagradas.

I - Manter o equilíbrio das escrituras.

O que parece uma contradição na verdade exige uma observação do seu contexto histórico-cultural, antes de generalizar como uma regra universal.
  • Paulo ou Apolo - são ambos de Jesus;
  • A fé sem obras de Paulo (Rm 3:28) ou as fé com obras de Tiago (Tg 2:4) - a fé não carece mas gera obras;
  • Não há judeu nem grego ou homem e mulher (Gl 3:28) - todos são iguais aos olhos de Deus;
  • A mulher esteja calada na igreja (ITm 2:12) - a mulher tinha um tratamento diferenciado na cultura judaica;
  • Jesus é tanto Deus e homem - Jesus como filho tem os mesmo atributos do Pai;
  • Deus é transcendente e pessoal - Deus é pessoal mas ilimitado;
  • Somente os eleitos podem ser salvos mas Deus ama rebeldes horríveis tanto que Jesus chorou por Jerusalém e Deus gritou: “Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? - Deus já conhece os salvo antes da fundação do mundo.

II - Atenção ao contexto para evitar heresias. Alguns textos são retóricos e não absolutos.

  • As bênçãos e maldições em (Dt 27-28) - É óbvio (retórico) que a conduta de acordo com a vontade de Deus terá sua aprovação e benção, enquanto que do contrário terá sua maldição;
  • Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos” (Os 6:6) - o objetivo dos sacrifícios era demonstrar a misericórdia de Deus, sendo portanto mais importante que o próprio sacrifício;
  • Jesus insiste que se alguém quer se tornar um discípulo seu, ele deve deixar seus pais (Lc 14:26) - Jesus está enfatizando a importância de sua obra e não instituindo uma ordenança; 
  • Não usar de vãs repetições (Mt 6:7) mas perseverar em oração (Lc 18:1-8) - Jesus ensina a orar sem utilizar jeitinhos mecânicos como os pagãos, mas sim com fé e perseverança, sem desistir.

III - Cuidado com o texto que aparece só uma vez, pois a Bíblia explica a Bíblia.

  • O batismo dos mortos (ICo 15:29);
  • Seguimos o batismo e a ceia e porque não também o lava-pés?
Se um texto só for dito uma vez, este se torna mais fácil de ser mal-entendido ou mal-aplicado, enquanto que se este texto for repetido em várias ocasiões em contextos ligeiramente diferentes, será mais bem compreendido. É por isso que a passagem do primeiro exemplo não é desenvolvida e não causou um impacto, digamos, na Confissão de Heidelberg ou na Confissão de Westminster, é usada pelos mórmons que justificam com suas literaturas; no segundo exemplo o batismo e a ceia do Senhor são certamente discutidos em mais de uma vez, e há ampla evidência de que a igreja primitiva observou ambas as práticas, mas não se pode dizer as mesmas coisas sobre o lava-pé.

IV - Qualquer afirmação ou mandamento tem uma explicação bíblica

Deus não é arbitrário e provê razões e estrutura de pensamento por trás das verdades que Ele revela, é necessário um cuidado em compreender as expressões culturais inseridas na linguagem humana (hebraico, aramaico e grego) pois as línguas são fenômenos culturais. Toda a verdade de Deus revelada a nós vem vestida de forma cultural, portanto devemos compreender a forma cultural para, pela graça de Deus, descobrir a verdade que Deus revelou através dela.
Por exemplo:
  • Quando Deus ordena as pessoas rasgarem suas vestes e se vestirem de pano de saco e cinzas (Jn 3:6) - são ações que transmitem a essência do arrependimento, tristeza, da mudança;
  • Paulo nos diz para saldar-nos com ósculo (beijo) santo (Rm 16:16) - essência do amor mútuo e comunhão;
  • O uso do véu pela mulher (ICo 11:6) - uma expressão do Corinto do primeiro século devido a relação entre homens e mulheres, marido e esposa;

V - Provérbios não são estatutos, são uma sabedoria destilada


  • Quem não é comigo é contra mim e quem comigo não ajunta espalha (Mt 12:30), quem não é contra nós é por nós (Mc 9:40, Lc 9:50) - não se contradizem se o primeiro fala de pessoas indiferentes contra elas mesmas, e o segundo aos discípulos sobre outros;
  • Não responda ao tolo segundo sua astutícia (Pv 26:4) e responda ao tolo segundo sua astutícia (Pv 26:5) - não se contradizem pois na segunda linha de cada provérbio dá a explicação: para que também não te faças semelhante a ele, e para que não seja sábio aos teus olhos.
  • Ensina a criança no caminho que deve andar, e quando for velho não se desviará dele (Pv 22:6) - incentiva a educação infantil temente a Deus, mas não quer dizer que a criança não vá se desviar quando crescer culpando os pais.
Continua...

Um comentário:

  1. muito bom pois estamos sempre aprendendo ,tudo que vem para o nosso crescimento ,deve ser valorizado.

    ResponderExcluir